sábado, 18 de janeiro de 2014

o eterno dançarino

Certa tarde, estou eu entre os corredores do mercadinho da minha rua, perdido como habitualmente, tentando lembrar quais itens devo comprar para não me frustar ao chegar em casa. É clássico: vou lavar a louça e não tem detergente, vou fritar um ovo e nada de óleo, uma triste sina.. Pois bem, me levo então a esse estabelecimento afim de solucionar minhas pequenas equações existenciais, e obviamente, ali, frente a todos os itens dos quais preciso, não me recordo que preciso deles. Mas a fome, sentimento nobre, me dá uma direção: quero pães!
Me dirijo então até a cesta onde os pãezinhos franceses mais gostosos estão a me aguardar e, pra minha alegria, acabaram de sair; estão lindos e quentinhos!
Um senhor está em minha frente apanhando, com um pegador único, seus pães. E aí me dou conta da peculiar maneira como esse senhor se move; devido a alguma desventura que lhe ataca os nervos, imagino, tudo o que ele faz se torna uma dança, trágica e bonita. Trágica pois ele não me parece ter controle sobre aqueles movimentos; bonita por que mostra a determinação daquele homem, que não espera a piedade de ninguém sobre sua condição e realiza a sua vida numa eterna dança desajeitada.
Espero ele terminar de pegar seus pães, pego quatro para mim, e vou para o caixa. Pago. O senhor "dançarino" está atras de mim na fila do caixa; enquanto empacoto meus itens, ele dança pra pagar, dança pra ensacar suas compras e dança para guardar o troco. A essa altura, já dei de costas rumo a minha casa. Chego e vou lavar a mão para preparar meu lanche... Ótimo! Esqueci o sabonete.

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