Certa tarde, estou eu entre os corredores do mercadinho da minha rua, perdido como habitualmente, tentando lembrar quais itens devo comprar para não me frustar ao chegar em casa. É clássico: vou lavar a louça e não tem detergente, vou fritar um ovo e nada de óleo, uma triste sina.. Pois bem, me levo então a esse estabelecimento afim de solucionar minhas pequenas equações existenciais, e obviamente, ali, frente a todos os itens dos quais preciso, não me recordo que preciso deles. Mas a fome, sentimento nobre, me dá uma direção: quero pães!
Me dirijo então até a cesta onde os pãezinhos franceses mais gostosos estão a me aguardar e, pra minha alegria, acabaram de sair; estão lindos e quentinhos!
Um senhor está em minha frente apanhando, com um pegador único, seus pães. E aí me dou conta da peculiar maneira como esse senhor se move; devido a alguma desventura que lhe ataca os nervos, imagino, tudo o que ele faz se torna uma dança, trágica e bonita. Trágica pois ele não me parece ter controle sobre aqueles movimentos; bonita por que mostra a determinação daquele homem, que não espera a piedade de ninguém sobre sua condição e realiza a sua vida numa eterna dança desajeitada.
Espero ele terminar de pegar seus pães, pego quatro para mim, e vou para o caixa. Pago. O senhor "dançarino" está atras de mim na fila do caixa; enquanto empacoto meus itens, ele dança pra pagar, dança pra ensacar suas compras e dança para guardar o troco. A essa altura, já dei de costas rumo a minha casa. Chego e vou lavar a mão para preparar meu lanche... Ótimo! Esqueci o sabonete.
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